História do Abadá

Carnaval baiano, final dos anos 60, a Avenida Sete fervilhava ao som das batucadas e dos poucos trios elétricos. Caetano, de Londres, profetizava: "atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu".

A contracultura dava o tom da festa. Entre pierrôs, palhaços e mascarados, surgia a figura "dark" das "mortalhas". A moda era sair fantasiado de morto. Uma fantasia irreverente que sintonizava aqueles tempos; o fúnebre da mortalha contrastava com a alegria e a liberdade da festa; era proibido proibir; tudo era permitido, menos o óbvio. As mortalhas, geralmente nas cores preta, vermelha ou branca, ostentavam cruzes no peito e nas costas. Também fazia parte da fantasia um capuz que logo seria abolido com a proibição imposta pelo governo militar de se brincar mascarado.

A praticidade das mortalhas ganhou fama e em pouco tempo já era unanimidade entre o povão. Os blocos da época ainda resistiam, utilizando fantasias de marinheiro, indígena, pirata e outros bichos. Enquanto isso, na rua fazia-se a revolução. As mortalhas que antes eram fúnebres, começavam a ganhar novas cores e serviam também como forma de expressão política e sexual, exibindo dizeres bem ao estilo daqueles anos.

Após perder suas principais características, como o capuz, as cores negras e as cruzes, a mortalha ganhou vida própria. Ao contrário das fantasias tradicionais, ela oferecia conforto e praticidade. Não demorou muito e os blocos mais sintonizados começaram a adotar a mortalha como fantasia. Logo ela se tornaria, junto ao trio, um dos símbolos do carnaval baiano dos anos 70 e 80.

Anos depois, essas fantasias, que de mortalha só tinham o nome, já não combinavam com novos tempos de conquista sexual. Era muito pano. As mulheres, como sempre elas, passaram a dobrar, cortar, enrolar, enfim, davam sempre um jeito de modificar e encurtar a fantasia. A mortalha estava com seus dias contados. Foi aí que no início dos anos 90 apareceu o "abadá". Uma evolução. Na realidade, uma mortalha mais curta e acompanhada de um short.

Hoje, o abadá é, não só a fantasia mais utilizada no carnaval baiano, como também a fantasia oficial de todas as micaretas no Brasil inteiro. Pouca gente sabe, porém, que abadá originalmente é o nome da roupa com que se joga a capoeira, da qual inicialmente tinha-se tentado copiar o modelo. Naturalmente, depois de muito estilizado, a "fantasia abadá" nada tem a ver com o "abadá da capoeira". Mas fica a homenagem a essa arte belíssima de uma cultura fantástica. 

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Autor e Fonte: Site Pedrinho da Rocha.

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